Herdar Dívidas do Falecido: Tenho que pagar?

Herdar dívidas do falecido representa uma preocupação comum entre familiares que enfrentam o luto. Dessa forma, é fundamental compreender como o ordenamento jurídico brasileiro trata as obrigações financeiras após o falecimento.

Destino das Dívidas Após o Falecimento

As Dívidas Desaparecem com a Morte?

As dívidas do falecido não se extinguem automaticamente com o óbito da pessoa. Consequentemente, o patrimônio deixado pelo de cujus responde pelas obrigações pendentes conforme estabelece a legislação.

O artigo 796 do Código de Processo Civil determina claramente essa responsabilidade. Portanto, estabelece:

“Art. 796. O espólio responde pelas dívidas do falecido, mas, feita a partilha, cada herdeiro responde por elas dentro das forças da herança e na proporção da parte que lhe coube.”

Conceito de Espólio e Sua Responsabilidade

O espólio constitui todo o patrimônio deixado pelo falecido, incluindo direitos e obrigações. Além disso, representa a totalidade dos bens, créditos e débitos existentes no momento do óbito.

Os credores podem cobrar suas dívidas diretamente do espólio durante o inventário. Entretanto, a cobrança recai sobre o patrimônio do falecido, não sobre os herdeiros diretamente.

Responsabilidade dos Herdeiros pelas Dívidas

Proteção Legal aos Herdeiros

O Código Civil brasileiro protege os herdeiros contra responsabilização excessiva pelas dívidas. Similarmente, o artigo 1.792 estabelece:

“Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demonstrando o valor dos bens herdados.”

Princípio da Responsabilidade Limitada

Os herdeiros respondem pelas dívidas apenas dentro dos limites da herança recebida. Consequentemente, seus patrimônios pessoais ficam protegidos contra cobranças excessivas dos credores.

Essa proteção impede que débitos superiores ao valor da herança sejam transferidos automaticamente. Portanto, os herdeiros devem comprovar a insuficiência patrimonial quando necessário.

Pagamento das Dívidas no Inventário

Processo de Quitação dos Débitos

O inventário organiza todo o patrimônio do falecido, incluindo bens e dívidas existentes. Dessa forma, as obrigações são quitadas com os próprios recursos deixados pelo de cujus.

Após o pagamento de todas as dívidas, o saldo remanescente é partilhado entre os herdeiros. Consequentemente, apenas o valor líquido da herança é efetivamente transmitido aos sucessores.

Ordem de Preferência dos Credores

O inventário estabelece ordem específica para pagamento dos credores conforme a legislação. Similarmente, despesas do funeral e custas processuais possuem prioridade sobre demais obrigações.

Situações Especiais de Responsabilidade dos Herdeiros

Fiança e Garantias Pessoais

Os herdeiros que atuaram como fiadores das dívidas do falecido respondem pessoalmente. Além disso, essa responsabilidade independe do valor da herança recebida pelos sucessores.

O credor pode cobrar diretamente do herdeiro fiador utilizando seu patrimônio pessoal. Consequentemente, a garantia prestada em vida mantém seus efeitos após o falecimento.

Responsabilidade Solidária dos Cônjuges

O cônjuge que figurou como co-devedor responde solidariamente pelas obrigações contraídas. Portanto, essa responsabilidade independe da abertura do inventário ou partilha dos bens.

Contratos de crédito assinados em conjunto geram responsabilidade pessoal do cônjuge sobrevivente. Similarmente, essa obrigação não se limita ao valor da herança recebida.

Garantias Reais Sobre Bens

Bens gravados com hipoteca, penhor ou alienação fiduciária respondem preferencialmente pelas dívidas. Dessa forma, credores podem executar diretamente essas garantias independentemente do inventário.

Dívidas Superiores ao Patrimônio Deixado

Insuficiência Patrimonial do Espólio

Quando as dívidas superam o valor do patrimônio deixado, os credores recebem apenas proporcionalmente. Consequentemente, o saldo devedor não pode ser cobrado dos herdeiros pessoalmente.

Por exemplo, se o falecido deixou débitos de cinquenta mil reais e patrimônio de trinta mil reais. Portanto, os credores receberão apenas trinta mil reais, sem direito ao saldo remanescente.

Extinção do Saldo Devedor

O saldo devedor não quitado se extingue quando comprovada a insuficiência patrimonial. Além disso, os herdeiros não assumem responsabilidade pelo valor não coberto pela herança.

Essa regra protege os sucessores contra endividamento decorrente da herança deficitária. Consequentemente, evita a transmissão automática de passivos superiores aos ativos recebidos.

Aparecimento de Dívidas Após o Inventário

Cobrança Posterior à Partilha

Credores que aparecem após a conclusão do inventário podem cobrar dos herdeiros. Entretanto, essa cobrança fica limitada ao valor efetivamente recebido por cada sucessor.

O artigo 796 do Código de Processo Civil estabelece essa responsabilidade proporcional. Similarmente, cada herdeiro responde na medida da quota-parte que lhe coube na partilha.

Limitação da Responsabilidade Posterior

A responsabilidade dos herdeiros por dívidas descobertas posteriormente não pode exceder a herança. Consequentemente, seus patrimônios pessoais permanecem protegidos contra cobranças excessivas.

Se a dívida posterior superar o valor total da herança partilhada, os herdeiros pagam apenas proporcionalmente. Portanto, o excesso não pode ser cobrado de seus bens particulares.

Estratégias de Proteção Patrimonial

Inventário Negativo ou Declaração de Ausência de Bens

Quando o falecido não deixa patrimônio, deve-se promover inventário negativo. Dessa forma, comprova-se judicialmente a inexistência de bens suficientes para quitar as dívidas.

Essa medida protege os herdeiros contra futuras cobranças baseadas em alegações infundadas. Consequentemente, estabelece-se definitivamente a inexistência de responsabilidade sucessória.

Renúncia à Herança

Os herdeiros podem renunciar à herança para evitar assumir qualquer responsabilidade. Entretanto, essa decisão deve ser tomada antes da partilha dos bens.

A renúncia deve ser expressa e realizada por escritura pública ou termo judicial. Similarmente, essa medida protege completamente o patrimônio pessoal do renunciante.

Aspectos Processuais da Cobrança de Dívidas

Habilitação de Créditos no Inventário

Os credores devem habilitar seus créditos durante a tramitação do inventário. Dessa forma, participam da partilha proporcional do patrimônio disponível para pagamento.

A habilitação tardia não prejudica o direito do credor, mas pode afetar a ordem de pagamento. Consequentemente, créditos habilitados posteriormente podem ter preferência reduzida.

Execução Contra o Espólio

A execução das dívidas deve ser direcionada contra o espólio, não contra os herdeiros. Portanto, apenas o patrimônio do falecido pode ser objeto de constrição judicial.

Os herdeiros participam do processo na qualidade de representantes do espólio. Similarmente, suas responsabilidades limitam-se à administração dos bens da herança.

Tipos de Dívidas Mais Comuns em Inventários

Dívidas Bancárias e Financiamentos

Empréstimos pessoais, financiamentos e cartões de crédito constituem débitos comuns em inventários. Além disso, essas obrigações geralmente possuem garantias pessoais ou reais associadas.

Dívidas Tributárias

Impostos em atraso, multas e contribuições sociais também integram o passivo sucessório. Consequentemente, devem ser quitados antes da partilha dos bens entre os herdeiros.

Débitos Trabalhistas

Salários, décimo terceiro, férias e verbas rescisórias pendentes respondem pelo patrimônio do espólio. Portanto, esses créditos possuem natureza alimentar e preferência no pagamento.

Planejamento Sucessório e Prevenção de Problemas

Organização Patrimonial em Vida

O planejamento adequado do patrimônio evita surpresas desagradáveis aos herdeiros. Dessa forma, a organização prévia facilita o inventário e reduz custos processuais.

Seguro de Vida Como Proteção

O seguro de vida não integra o inventário e pode quitar dívidas sem afetar a herança. Consequentemente, protege os herdeiros contra passivos excessivos do falecido.

Conclusão Sobre Herança de Dívidas

Os herdeiros não herdam automaticamente as dívidas do falecido no ordenamento jurídico brasileiro. Dessa forma, a responsabilidade limita-se ao patrimônio efetivamente recebido na partilha.

A proteção legal impede que débitos superiores à herança sejam transferidos aos sucessores. Consequentemente, seus patrimônios pessoais ficam resguardados contra cobranças excessivas.

Situações especiais como fiança e responsabilidade solidária podem gerar obrigações pessoais dos herdeiros. Portanto, o assessoramento jurídico especializado torna-se fundamental para proteção adequada.

O inventário organiza todo o patrimônio e define claramente as responsabilidades de cada herdeiro. Similarmente, estabelece os limites da responsabilidade sucessória conforme a legislação vigente.

A complexidade das questões sucessórias exige acompanhamento profissional qualificado durante todo o processo. Além disso, previne problemas futuros e garante segurança jurídica aos envolvidos.

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Thales de Menezes

Advogado em Goiânia (GO) especialista em Direito Imobiliário e Direito de Inventário.

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